Um dos mais concorridos eventos no início desta semana do Fórum das Culturas de Monterrey foi um debate com o escritor norte-americano Robert Greene (48 anos), no lançamento de seu novo livro "Estratégias de Guerra". A julgar pela empolgada reação da imprensa local, Robert Greene "descobriu a pólvora" (desculpem o jogo de palavras infame)...
Segundo ele, não estamos sendo bem educados para viver no século XXI porque "predomina uma cultura da paz, como se não tivéssemos que enfrentar diferentes guerras todos os dias". A partir desta conclusão ele enumera as 33 estratégias que deveriam estar sendo ensinadas nas escolas e universidades (descrevo aqui apenas as mais significativas):
1) Nunca poupe seu inimigo (estratégia da polaridade);
2) Mantenha seu adversário nervoso (estratégia de guerra de guerrilha mental), 
4) Crie uma sensação de urgência e desespero; 
5) Evite as trocas de idéias entre seu grupo de comandados (estratégia de mando e controle); 
6) Dividir para governar; 
10) Crie sempre uma presença ameaçadora (a melhor maneira de se ter paz é estar preparado para a guerra); 
19) Envolva e seduza seu inimigo; 
27) Aparente defender os interesses de todos ao mesmo tempo em que garanta que os seus interesses prevaleçam; 
30) Penetra nas mentes: estratégias de comunicação; 
33) Semeie pânico e incerteza com atos de terror (estratégia da reação em cadeia).
Bom, em primeiro lugar nada do que ele propõe é novidade. Há milhões de anos o que prevalece no mundo é esta cultura guerreira e milhares de anos antes dele Zun Tsu já escreveu (de forma muito mais interessante e criativa, aliás) sobre a Arte da Guerra... Portanto, não é verdade que prevaleça hoje uma cultura de paz. Infelizmente.
O que vigora, principalmente no mundo empresarial, é esta visão de que a competição feroz é a força motriz do desenvolvimento da humanidade. Lembro-me de uma palestra de um conterrâneo de Greene, em Washington, respondendo a uma pergunta da audiência, sobre o que ele faria se um concorrente estivesse quase se afogando (falindo), com água na altura do nariz. Mais do que a resposta - "enfiaria uma mangueira de água na sua boca, para que se afogasse mais rápido!" - o que me surpreendeu foi a reação da platéia: urros ("YES!") e assobios histéricos de apoio!!!!
Sempre que penso sobre sociedade do conhecimento esta lembrança me vem ä cabeça. Porque acho que, nesta nova sociedade, esta mentalidade guerreira (que Robert Greene encarna) está sendo claramente derrotada. O que prevalece, cada vez mais, é a coopetição: colaboração combinada com uma competição sadia. Não aquela que quer afogar seu "inimigo", mas aquela que procura premiar os que se esforçam (reparem que não disse "premiar os melhores"). Sim, porque simplesmente eliminar a competição também não resolve. Basta olhar a apatia e desinteresse com que trabalha a maior parte de meus colegas funcionários públicos...
Ao contrário de Greene, acredito que o que deveríamos estar fazendo para preparar nossas crianças e estudantes para viver no século XXI é estimular a capacidade de trabalhar em grupo; de reforçar sua identidade individual ao mesmo tempo que valorizamos a diversidade; de desenvolver sua capacidade de comunicação; o senso de responsabilidade com o planeta que vivemos e cultivar uma cultura da paz, porque paz não é apenas ausência de guerras, mas uma condição indispensável para nosso bem-estar e felicidade.
 
 
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